segunda-feira, 8 de abril de 2013

Contos...

Estou a planear novos artigos mas em tempo de testes é sempre difícil.
Dou-lhes agora uma colecta minha de alguns contos populares chineses antigos que achei ( especialmente o priemiro ) algo parecidos com histórias do Antigo Testamento.


O Julgamento de uma disputa
(Do Fengshut'ung, século II)


Em Linhuai, um vendedor de sedas levava uma peça desse tecido impermeável para vender na cidade. Quando começou a chover, êle a abriu sobre a cabeça para abrigar-se e em breve outro homem veio proteger-se sob a peça. Ao parar a chuva, ambos começaram a disputar sobre a posse da seda. Hsüeh Hsüan disse: - "Essa peça de seda impermeável vale apenas algumas centenas de moedas. Por que brigar por causa dela ?" Por conseguinte, cortou-a em dois pedaços e deu um deles a cada um dos contendores. Continuou a olhá-los e viu que o verdadeiro dono protestava que tinha sido enganado ao passo que o outro parecia bem satisfeito. Assim soube a quem pertencia mesmo a seda e o outro homem foi declarado culpado e condenado.

A Lenda de Ch'ienniang
(Um conto da dinastia Tang)


Ch'ienniang era filha de Chan Yi, um oficial em Hunan. Tinha um primo chamado Wang Chou, rapaz inteligente e bonito. Tinham sido criados juntos desde a mais tenra idade e como seu pai gostasse muito do menino tinha dito que faria de Wang Chou seu genro. Ambos ouviram essa promessa e, como a menina fosse a única filha e estivessem sempre juntos, cada dia mais se afeiçoavam um ao outro. Já agora eram dois jovens e continuavam, entretanto, a se tratar como parentes íntimos. Infelizmente o pai da jovem era o único que nada percebia. Um dia, um jovem oficial veio pedir-lhe a mão da filha e ignorando, ou esquecendo, sua promessa primitiva, ele consentiu fazendo com que Ch'ienniang, desesperada entre o amor e a piedade filial, quase morresse de dor, causando tal desgosto ao rapaz que êle resolveu sair para outras terras de preferência a ficar ali e ver sua amada tornar-se a esposa de um outro. Assim, inventou um pretexto e informou o tio de que precisava ir para a capital. Como o tio não conseguisse persuadi-lo a ficar, deu-lhe dinheiro e presentes e preparou um banquete de despedida para ele. Wang Chou, triste por ter de separar-se da amada, pensou na partida durante toda a festa dizendo a si mesmo que era melhor partir do que viver ali vendo seus, sonhos despedaçados.

Assim Wang Chou saiu num barco da tarde e antes de estar a algumas milhas de distância já a noite caíra. Disse ao barqueiro que amarrasse o barco na praia e descansasse a noite. Não conseguiu dormir e, por volta da meia-noite, ouviu passos ligeiros que se aproximavam. N’alguns minutos o som pareceu bem perto do barco. Ergueu-se e perguntou - "Quem pode ser a esta hora da noite ?" - "Sou eu, Ch'ienniang," foi a resposta. Surpreso e encantado, levou-a para o barco e ali ela lhe contou que esperara ser sua esposa. que o pai não tinha procedido bem para com ele e que ela não suportava a separação. Receava, outrossim, que ele, só e viajando por terras estranhas.. pudesse ser tentado a suicidar-se. Eis porque recaíra na censura da sociedade e na cólera dos pais e viera seguí-lo para onde quer que fosse. Assim ambos ficaram satisfeitos e continuaram a viagem juntos: para Szechuen.

Passaram-se cinco anos de felicidade e ela o presenteou com dois: filhos. Porém não tinham notícias da família e diariamente ela pensava nos pais. Era essa a única coisa que lhes empanava a felicidade.. Ele: não sabia se os pais ainda viviam e quais as condições e, certa noite, começou a contar a Wang Chou como se sentia infeliz e, por ser a filha única, como se considerava culpada de grande impiedade- filial por ter deixado os velhos pais dessa maneira. - "Tem um coração cheio de amor filial e estou de acordo com você," disse-lhe- o marido. "Já se passaram cinco anos; certamente não nos guardam rancor. Voltemos para casa." Ch'ienniang exultou ao ouvir isso e assim fizeram todos os preparativos para voltar para casa com os dois: filhos.

Quando o bote chegou à cidade natal, Wang Chou disse a Ch'ienniang - "Não sei qual o estado de ânimo de seus pais. Será melhor que eu vá para verificar." Seu coração palpitava ao aproximar-se da casa do sogro. Ao vê-lo, Wang OIou ajoelhou-se pedindo perdão; Ao ouvir isso, Chang Yi surpreendeu-se e disse - "De quem esta falando? Ch'ienniang jaz inconsciente em sua cama nesses últimos cinco anos, desde que você nos deixou. Ela jamais abandonou o leito. - "Não estou mentindo," disse Wang Chou. "Ela está passando bem e esperando por mim no barco".

Chan Yi não sabia o que pensar, por isso, mandou duas servas ver Ch'ienniang. Elas a viram sentada, bem vestida e feliz e até disse às servas para que falassem com seus pais o quanto os amava. Amedrontadas, as duas servas correram para casa para dar essas novas e Chang Yi ainda ficou mais intrigado. Nesse ínterim, aquela que estava na cama ouviu as novidades e parece que sua enfermidade desapareceu e os olhos brilharam. Levantou-se da cama e vestiu-se, ajeitando-se diante do espelho. Sorrindo e sem proferir uma palavra, encaminhou-se diretamente para o barco. A que estava no barco, preparava-se para tomar o caminho de casa e assim encontraram-se nas margens do rio. Quando as duas chegaram perto uma da outra seus corpos confundiram-se num só, com roupas em duplicatas, e surgiu a antiga Ch'ienniang tão jovem e encantadora como nunca.

Os pais ficaram satisfeitíssimos, porém pediram aos servos que guardassem segredo e nada dissessem aos vizinhos a respeito do que acontecera, a fim de que não houvesse comentários. Eis porque ninguém, exceto os parentes mais chegados da família Chang, jamais soube desse estranho acontecimento.

Wang Chou e Ch'ienniang viveram como marido e mulher durante mais de quarenta anos antes de morrerem. (Supõe-se que esta história tenha ocorrido em torno de 690 d.C.)


O Homem que vendia fantasmas
(Do "Soushenchi", século IV)


Quando Sung Tingpo, de Nanyang, era ainda rapaz estava passeando certa noite quando encontrou-se com uma fantasma. Perguntou à aparição quem era e ela respondeu que era um fantasma. - "Quem é você ?" perguntou por sua vez o fantasma. Tingpo mentiu e respondeu - "Eu também sou um fantasma." O fantasma então quis saber para onde ele ia e Tingpo informou - "Estou a caminho para a cidade de Wanshih." - "Também vou para lá," afirmou a aparição. Assim puseram-se a caminhar juntos. Após uma milha, se tanto, o fantasma disse que era estupidez estarem andando ambos quando um podia carregar o outro, por turnos. - "ótima idéia," achou Tingpo. O fantasma pôs Tingpo às costas e depois de ter andado uma milha disse - "Você é pesado demais para um fantasma. Tem certeza de que é um fantasma mesmo ?" Tingpo explicou que ainda era um fantasma novo e que, por conseguinte, ainda pesava um pouco. Tingpo, por sua vez, pôs-se a carregar o fantasma, mas êsse era tão leve que tinha a impressão de não estar carregando nada. Assim foram caminhando, revezando-se, até que Tingpo perguntou ao companheiro qual era a coisa que metia mais medo aos fantasmas. - "Os fantasmas têm um medo horrível da saliva humana", afirmou o fantasma. Assim foram andando, andando até que chegaram a um rio. Tingpo deixou que o fantasma fosse adiante e observou que êle não fazia barulho algum ao nadar, mas quando êle entrou n’água, o fantasma ouviu o estalar na água e pediu-lhe uma explicação. Tingpo explicou novamente - "Não se surpreenda, pois ainda sou muito novo e não estou ainda acostumado a atravessar a correnteza." No momento em que se aproximavam da cidade, Tingpo começou a carregar o fantasma nas costas apertando-o fortemente. O fantasma pôs-se a gritar e a chorar lutando para apear-se, porém Tingpo o apertou com mais fôrça ainda. Ao chegar às ruas da cidade, soltou-o e o fantasma se transformou num bode. Tingpo cuspiu no animal a fim de que não pudesse transformar-se outra vez, vendeu-o por mil e quinhentos dinheiros e foi para casa. Eis a razão do ditado de Shih Tsung: "Tingpo vendeu um fantasma por mil e quinhentos dinheiros."



Como a língua sobreviveu aos dentes
(Liu Hsiang)

Chang Chuang estava doente e Laotse veio visitá-lo. Este disse a Chang Chuang:

-estás muito doente. Não tens nada que dizer ao teu discípulo?
-Ainda que não me pergutasses, eu ia dizer-te – replicou Chang – sabes porque uma pessoa não deve descer do carro quando chega a aldeia?
-Não significa este costume que as pessoas não devem esquecer sua terra de origem?- replicou Laotse.
-Ah, sim... Mas deixe-me perguntar outra coisa; sabes porque uma pessoa deve correr ao passar debaixo de uma arvore alta?
-Não significa que se deve respeitar os mais velhos, disse Laotse.
-Ah, sim...então Chang Chuang escancarou a boca e mostrou sua língua para Laotse, pedindo que ele olhasse bem lá dentro, dizendo: o que você vê agora?
-Sua língua, mestre – disse Laotse.
-Meus dentes estão aí? – disse o velho.
-Não – replicou Laotse.
-E sabes porque? – perguntou Chang Chuang?
-Não durou a língua mais tempo por ser flexível? E não caíram os dentes por serem mais duros? – retorquiu Laotse.
-Ah, sim... disse Chang Chuang – acabas de aprender o Tao. Não tenho mais nada te ensinar.


A Coruja e a Codorna
(Liu Hsiang)

Uma coruja em viagem encontrou com uma codorna, e esta perguntou: “pra onde você vai, coruja”? A coruja lhe respondeu: “vou para oeste, pois as pessoas da aldeia reclamam muito do meu piado”. Disse-lhe então a Codorna: “aceite uma sugestão: mude o seu pio, ou vão te odiar onde você for”.


O cego e o sol
(De Su Tungp’o)

Era uma vez um cego de nascença. Nunca tinha visto o sol e perguntava como ele era para as pessoas. Alguém lhe disse: “é como uma bandeja de latão”, e quando o cego, um dia, deu com uma bandeja pendurada, ouviu o som de metal e guardou-lhe como recordação do sol. Um dia, porém, tocaram sinos de bronze e o cego pensou que era o sol. Até que alguém lhe disse: “a luz do sol, na verdade, é como uma vela”. Um dia, o cego apalpou a vela e pensou que esta era a forma do sol. Assim, um dia encontrou um pedaço de bambu no chão e pensou tratar-se do sol. O Sol é muito diferente do sino ou do bambu, mas o cego não pode ver isso porque nunca viu o sol. O Tao é mais difícil de ver do eu o sol, e por isso os homens são com o cego. Ainda que vocês façam comparações, exemplos e tratados, o Tao será como o sol para o cego, parecido com uma bandeja, com um sino ou um bambu. Sempre imaginaremos uma coisa, esquecendo de outra. Assim, os homens se afastam cada vez mais da verdade, dando lhe aparências através de nomes. Todos estes enganos são tentativas de compreender o Tao.



O 1º não é parecido com a história do rei David?

Leia mais em http://chines-classico.blogspot.pt/2007/07/contos-chineses-por-lin-yutang.html



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