domingo, 26 de janeiro de 2014

União Ibérica: uma, mais que clara, Fraude

Todos os anos é ensinado aos estudantes portugueses - pelo menos desde do 4º ano, do 1º Ciclo do Ensino Básico, que existiu uma nação conjunta entre Portugal e Espanha de nome de União Ibérica.
Esta noção não podia estar mais errada.

Neste post pretendo demonstrar não só como nunca existiu nenhuma União Ibérica, mas também como Portugal nunca perdeu a sua independência para a Espanha.

O Império Português

Após o período das Descobertas do século XV e a colonização dos territórios em inícios do século XVI o Império estava a enfrentar dificuldades em gerir os seus territórios: a escassa população portuguesa e a falta de recursos financeiros (principalmente por causa da corrupção existente na parte oriental do Império) tornou a administração imperial uma tarefa bastante árdua.
Assim, numa jogada táctica, na segunda metade do século XVI Portugal vai-se tornar um Império principalmente marítimo e comercial.


Apesar da recuperação das rotas do Lavante (Índia-Arábia-Veneza), o Império mantêm o seu monopólio oriental sendo apenas afectado pelos ataques de corsários (piratas ao serviço do rei) ingleses, holandeses e franceses.



O Império Espanhol

O Império Espanhol aproveitava - na segunda metade do século XVI - a paz provisória com Portugal e o acordo sobre o espaço marítimo que teve com este (Tratado de Tordesilhas - 1497) para conquistar e espanholizar a sua parte do Mundo, dando principal atenção à América do Sul e Central desde da chegada de Cólon (Colombo)  em 1492.
Assim, Espanha ocupa as partes não-portuguesas (não-descobertas, não-conquistadas ou não-povoadas) da América criando o Império Espanhol das Américas com extensão desde do actual Chile até à actual Califórnia e Florida (E.U.A), devastando todas as culturas que não respeitam a autoridade dos reis espanhóis e destruindo culturas e crenças milenares (incas, maias, astecas).

Beneficiando de uma população muito superior à portuguesa Espanha forma um vasto império territorial, no entanto, inalcançável sem a concessão imperial para a navegação em águas portuguesas.  




D. Sebastião, D. Henrique e a Crise Dinástica

A 11 de Junho de 1557 D. Sebastião, neto do rei falecido D. João III é coroado rei de Portugal e do Império Português aos apenas 3 anos de idade.
A sua avó- D. Catarina- assume a regência até aos 14 anos de idade de D. Sebastião quando este assume a governação.
O jovem rei sonhava em lutar contra os muçulmanos no Norte de África, expandindo a fé católica e a cultura portuguesa e criando o Quinto Império (o quinto império mundial da História registada - nunca chegou a ser alcançado).
Em 1578, o rei com idade de 24 anos parte para Marrocos, lutando em Alcácer Quibir.

Na batalha, o campo dos três reis, os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão Abd al-Malik (Mulei Moluco) e perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida." 8 Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavalleiros arremetteram contra os infieis; D. Sebastião seguiu-os e desappareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa ácerca do seu verdadeiro fim (em português arcaico).

D. Sebastião morreu assim novo, solteiro e sem descendentes pelo que o quem lhe sucedeu ao trono foi o seu tio-avô (filho de D. Manuel I) o cardeal D. Henrique.

Governando pelo curto período de dois anos, o rei-cardeal faleceu em 1580. Idoso e sem descendentes, a morte de D. Henrique criou um Crise Dinástica para a Sucessão ao Trono.


Os três candidatos ao trono

Surgiram, então, após a morte do rei D. Henrique três candidatos a lhe sucederem ao trono português:
  • D. António, Prior do Crato - apoiado pelas classes populares que tinham como principal preocupação a continuidade do império e da independência nacional; neto ilegítimo do rei D. Manuel I através de seu pai D. Luís.
  • D. Catarina, Duquesa de Bragança - apoiada por uma pequena parte do Clero e da Nobreza; neta legítima de D. Manuel tinha como principal obstáculo o facto de ser mulher.
  • D. Filipe, Rei de Espanha (como Filipe II), Sicília, Holanda e territórios de Carlos V - apoiado sobretudo pela Burguesia e pela Nobreza; era filho do imperador Carlos V e da princesa portuguesa D. Isabel pelo que era neto legítimo de D. Manuel e reconhecidamente luso-espanhol.
O Prior do Crato foi aclamado rei pelo povo tendo formado o pequeno governo e exército, no entanto D. Filipe, apoiado pela burguesia e pela nobreza que esperavam obter novos títulos, cargos e benefícios de uma muito maior aliança com o Império Espanhol, ataca Portugal.
Levando uma pequena armada, D. Filipe tenta entrar pelo estuário do Tejo, mas perde devido à grande defesa entre Caiscais-Oeira-Lisboa-Almada, cujos vestígios ainda hoje podem ser vistos.

Exigindo uma aclamação justa entre Cortes, D. Filipe ataca de novo pela Galiza e Estremadura Espanhola aonde destrói as defesas de D. António com um poderoso exército.

As Cortes de Tomar

Em 1581, através de inúmeros jogos de poder e corrupção, D. Filipe é aclamado pelas Cortes de Tomar como rei D. Filipe I de Portugal e do Império Português.

Assim, D. Filipe da Casa de Habsburgo é o rei com mais territórios no Mundo, pelo que disse que: 
"No meu império o Sol nunca se põe".

No final da sua vida, D. Filipe I era rei de Portugal, Espanha, Países Baixos, Sicília e Nápoles e Inglaterra criando uma União Dinástica entre todos estes países.

Para acalmar os portugueses D.Filipe fez as seguintes promessas em Cortes:
  • que Portugal continuaria um país independente;
  • manteria a língua portuguesa como língua oficial;
  • continuaria a cunhar e a usar moeda própria;
  • que os altos cargos públicos (justiça, Igreja e administração pública) continuariam a ser desempenhados por portugueses em todo o Império.
D. Filipe manteve as suas promessas até ao fim da vida.

A Noção de União Ibérica

A noção de 'União Ibérica' nasceu apenas no século XIX fruto de especulações de membros da alta sociedade portuguesa e espanhola (principalmente filósofos, nobres e escritores) que imaginaram como seria a sua vida se os dois reinos se juntassem numa Federação à qual chamaram de União Ibérica.

Uma das primeiras propostas para uma bandeira 'ibérica'

Conclusão

Poder-se-à concluir que a União Ibérica nunca existiu. 
Visto que o rei D. Filipe I era tanto português como espanhol e descendente do rei D. Manuel I.
Que D. Filipe prometeu manter a independência nacional e todos os seus factores separados dos espanhóis.
E que a União Ibérica foi uma noção criada trezentos anos mais tarde ao reinado de D. Filipe e da Dinastia Filipina que, com o tempo, foi erroneamente associada à terceira dinastia portuguesa.
Também podemos concluir que Portugal, Espanha e os restantes domínios de D. Filipe sofreram uma União Dinástica conjunta fruto de uma monarquia dualista.


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