sexta-feira, 28 de março de 2014

A Divulgação Pseudocientista no Telejornal da RTP

Artigo de Opinião Fundamentada

"Eu não quero acreditar, eu quero saber" - Carl Sagan

Segundo o relatório Ciência no Ecrã, da autoria da Entidade Reguladora da Comunicação e do Instituto Gulbenkian de Ciência, apenas 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre é dedicado à ciência, a duração média das peças de ciência no Telejornal da RTP é de três minutos e vinte e quatro segundos e 92% destas têm menos de cinco minutos.
A RTP, não afectada por estes números, decidiu ainda contradizê-los, criando um espaço para a divulgação da Pseudociência, em horário nobre, ao qual chamou "Acreditar".

No dia 17 de Março, a RTP usou sete minutos do Telejornal para fazer publicidade a um especialista em "medicina popular" que afirma fazer diagnósticos médicos medindo, aos palmos, a roupa dos pacientes. No dia 18, concedeu mais sete minutos de tempo de antena a um "endireita" que diz ter um "dom" que "herdou do pai", que trata "males dos ossos e dos nervos de uma forma que não tem explicação", mas que terá demonstrado, com um galo, a validade do seu tratamento em tribunal. No dia 19, mais seis minutos e 15 segundos no horário mais nobre da televisão pública foram dedicados a uma cartomante que diz acertar em 90% das vezes. No dia 20, mais sete minutos e 24 segundos de publicidade a uma fito-terapeuta que afirma fazer diagnósticos de doenças graves através da leitura da íris, diz tratar o cancro de uma paciente com uma raiz que "tem a forma do corpo humano" e conclui dizendo que "a quântica pode determinar a data da morte do ser humano". No dia 21 de Março, mais sete minutos de horário nobre para promover um médium que afirma "incorporar" os espíritos "de quem partiu, geralmente santos". Em cinco dias, a televisão pública usou 41 minutos e 39 segundos do Telejornal para fazer publicidade gratuita a pseudocientistas e charlatões cujo único poder é enganar os menos cépticos, ou mais ingénuos.


Das coisas mais frustrantes, será mesmo o facto de nem jornalismo ser feito.
Jornalismo seria entrevistar tanto os 'clientes' satisfeitos como os insatisfeitos, apresentando ambos de um ponto de vista céptico e imparcial, oferecendo depois um ponto de vista cientifico ou um aviso de que pode estar apenas a ser praticado um truque (isto para não dizer charlatanice).
Mas não é isto que a RTP faz. O que a RTP faz é publicidade enganosa, usando o poder que possui sobre o público português.
O que se deverá fazer neste caso? Acabar com o espaço a pseudociência e oferecê-lo à divulgação cientifica seria um excelente começo para remediar a situação já criada.

Bibliografia:
Marçal, David, Público, 2014,03,28

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