A autarquia de Lisboa decidiu que os símbolos das antigas províncias ultramarinas estavam "ultrapassados" pelo que decidiu retirá-los da Praça do Império, o mesmo sítio onde à 74 anos, em 1940 foi realizada a Exposição Mundo Português.
Este artigo está dividido em duas partes: a noticia e a reflexão, sendo a última estritamente de opinião pessoal fundamentada.
A Noticia
A Praça do Império, que recebeu em 1940 a exposição do Mundo Português, esta que teve como principal objectivo celebrar a ideia de um país pluri-continental, pluri-racial e pluri-cultural nos tempos do Estado Novo, perde agora parte da sua história pessoal e vê arrancada parte da História comum a todos os povos, agora independentes, que eram Portugal naqueles tempos, com a nova iniciativa da câmara de Lisboa que decidiu retirar os arranjos florais que decoravam um friso em torno da Fonte Monumental. A razão para este acto é dita pela própria câmara: "Os brasões estão ultrapassados".
Num local que está constantemente cheio de turistas, mesmo no pós-25 de Abril, os brasões impressionam e mostravam não só os locais que permaneceram sempre com o 1º e último império da História pós-romana, como mostravam prumo, brio, um cuidado especial que o povo português tinha para preservar a sua História tão gloriosa. Ou pelo menos mostravam, até há alguns anos, quando se começou a perceber o desleixo que começou a haver com a preservação deste monumento - pois coisas muito mais recentes do que uma tradição de 74 anos foram consideradas monumentos - o desleixo chegou mesmo ao ponto de que um turistas mais desatento, ou que pura e simplesmente não soubesse, passaria despercebido aos arranjos (nesta altura, desarranjos) florais.
Fonte da Imagem: PÚBLICO |
Em declarações ao PÚBLICO na terça-feira passada (dia 26) o assessor de imprensa de Sá Fernandes confirmou a decisão da câmara de acabar com os brasões dos antigos territórios por considerar que "estão ultrapassados" e que "não faz sentido mantê-los" pelo que "não vão ser recuperados". Em relação aos outros símbolos o assessor afirmou que vão ser mantidos e negou a falta de manutenção, garantindo que é "feita todos os dias".
O Jardim do Império foi construído em 1940 para a Exposição do Mundo Português que celebrava os 800 anos de Independência e os 300 da queda da Dinastia Filipina pela 'Restauração'.
Desenhado por Vasco Marques o jardim tinha por objectivo mostrar Portugal, antigo e moderno, unido os dois num só - um estilo que Salazar apreciava bastante - como uma âncora que era também um relógio de Sol que mostrava as horas da Metrópole e do Ultramar ou como o tão conhecido Padrão dos Descobrimentos.
Opinião
Esta parte do artigo é de opinião fundamentada.
Esta decisão da câmara não podia ser mais irracional.
Com tantos problemas que Lisboa enfrenta, quando tantas decisões em relação à saúde, educação ou turismo (por exemplo) que a câmara poderia tomar se não fosse apagar um bocado da nossa História a sua aparente prioridade.
Porque - embora muita gente não goste de admitir - Portugal teve um Império e, há 74 anos, celebrou de forma pacífica esse facto, destruir os arranjos não é só tentar apagar parte da História Portuguesa, como também tentar apagar parte da Lusófona e da Mundial, e, ao mesmo tempo, destruir uma agradável atracção turística e uma curiosidade sobre Lisboa.
Quanto ao argumento oficial da câmara de que os brasões "estão ultrapassados" não posso dar um contra-argumento lógico, pois não existe lógica no primeiro. Se seguirmos o raciocínio de que os brasões das antigas províncias estão ultrapassados acabamos por destruir toda a nossa História, afinal todos os nossos monumentos que nos tornam um país tão unicamente belo estão também «ultrapassados». Retirar os brasões com uma desculpa tão esfarrapada é argumento para destruir a Torre de Belém e o Mosteiro de Jerónimos - afinal comemoram também eles um Império «ultrapassado» mas 500 anos antes da Praça do Império. Já que estamos nisso: destruamos a estátua d'el-rei D.Afonso Henriques em Guimarães - o seu reinado também já acabou há muito, destruamos todos os castelos - símbolos de rivalidades agora 'inexistentes'. Queimemos todos os livros e documentos históricos, destruamos todas as bandeiras e símbolos monárquicos - pois agora manda a República. Mas esta também já tem 104 anos, portanto também ela pode ir.
Todos os actos acima são devaneios, isto é claro. Mas se usarmos o argumento do exceditur (está ultrapassado) podemos destruir toda a nossa História, todas as nossas raízes, tudo o que faz de nós o que somos, pois está ultrapassado. Se aplicarmos este argumento à vida real, viveremos num Mundo que não passa de uma gigante Las Vegas, onde os casinos são destruídos assim que são considerados muito antigos. O resultado? Uma Humanidade sem História, sem raízes e confusa de mais para saber o realmente é.
Só posso concluir que se continuarmos este processo de destruição da nossa História e Cultura, fruto das decisões de Homens que não percebem que a História diz mais sobre o que nós somos agora do que aquilo que nós fomos no passado enquanto Raça Humana, acabaremos um país com quase mil anos de História e sem História nenhuma.
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário