sexta-feira, 14 de março de 2014

Non Sequitur - E se os milagres existirem mesmo?

Texto originalmente escrito por: Thiago Henrique Petruccelli

E se milagres, comunicação com espíritos e outros fenómenos sobrenaturais fossem reais? Não seria isso evidência para crer em Deus? Não significaria que temos que crer na Bíblia? Ou no espiritismo?

Primeiramente, preciso dizer que relatos de milagres e acontecimentos sobrenaturais existem em diversas culturas. No hinduísmo existem muitos relatos de yoguis que conseguem feitos incríveis, como levitar e passar meses ou anos sem comer. Seguidores do deus hindu Ganesh alegam que existem estatuas do deus que bebem leite. Existem relatos de curas de câncer em seguidores do budismo, que supostamente mudaram sua conduta mental e se curaram da doença. Os crentes do islamismo alegam que Maomé foi capaz de fazer centenas de milagres. E curas misteriosas acontecem até com ateus e agnósticos.

Atente aqui que não estou dizendo aqui que esses relatos são verídicos; Estou apenas constatando o que se fala a respeito.



Supondo que fossem reais, a simples existência desses fenômenos não comprova nenhum livro sagrado ou religioso, incluindo a Bíblia. Se uma cura milagrosa acontece com uma pessoa, disso não podemos concluir que existe

m anjos ou Deus, e que o que se diz na Bíblia é real. É assim porque existem milhares de possibilidades e hipóteses para explicar tal fenômeno; mas como estamos condicionados com a cultura cristã desde pequenos, quando algo desse tipo acontece é pra lá que nossa mente se vira automaticamente, sem um pensamento mais profundo. Mas, por que essa cura não poderia ser um poder oculto da natureza humana? Ação de extra-terrestres invisíveis? De espíritos? Ou da ação de santos ou forças de outras religiões e culturas? Existem diversas possibilidades, e se o leitor atentar bem para essas hipóteses, a maioria delas não pode ser testada ou experimentada – tanto quanto dizer que uma cura aconteceu pelo poder de Deus, do Espírito Santo ou desse ou daquele santo. Ou seja, qualquer das hipóteses que eu citei acima é tão plausível quanto dizer que foi a ação do Deus cristão. É o famoso conceito de falseabilidade de uma hipótese, se ela pode ou não ser verificada e testada.

Se por um acaso conversamos com um “médium” ou “profeta”, e ele diz coisas a nosso respeito da qual poucos sabem, ou a respeito de pessoas que já se foram, isso não é prova definitiva de que existam espíritos ou o espírito santo. É uma prova de que algo que não compreendemos está acontecendo, indo desde a hipótese mais realista – como um charlatão fazendo leitura fria – até simplesmente o fato de existir mesmo fenômenos que ainda desconhecemos. E, se com pesquisas mais atentas, pudéssemos comprovar que de fato é a ação de espíritos das pessoas que já morreram, isso também não torna o que Kardec escreveu sobre o espiritismo real ou verdadeiro – por exemplo, que escolhemos nossas provas e missões antes de encarnar, que cada reencarnação nos torna melhores, que existem cidades espirituais… Essa é uma falácia conhecida como non sequitur: A conclusão não decorre das premissas. O fato de presenciar um fenômeno destes não torna verdade nenhum dos conceitos espíritas que eu citei acima. A realidade poderia ser muito diferente, e não teríamos nenhuma maneira de checar para verificar o que realmente acontece. Ou seja, de uma coisa não se pode concluir outra.

Mas o non sequitur é muito comum, especialmente em meios religiosos e – pasmem – políticos: muitas vezes um candidato aponta um problema da sociedade e joga a culpa no político do executivo (como prefeito ou presidente) que está no poder naquele momento. Porém esse problema pode ser histórico, vindo de muito tempo antes do político atacado em questão estar no poder, e também desconsiderando que na política existe um jogo de forças feito por vários participantes, como os outros políticos do legislativo e do judiciário, empresas, sociedade civil, etc.



Não é raro vermos notícias de pessoas que passam a acreditar em Deus após conversar com um médium, ou que se convertem para uma determinada religião após uma cura milagrosa. São bons exemplos de como nossa mente está propensa a escorregadas lógicas. Particularmente, eu penso que o ser humano não é um animal racional, mas sim um animal capaz de racionalidade, em determinados momentos e condições.

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