domingo, 17 de agosto de 2014

O Mito de que usamos apenas 10% do Cérebro

O Mito já dura há mais de um século, tornou-se base de toda uma lenda urbana que por várias vezes foi espalhada por revistas, séries de televisão e -claro- a Internet. Mas agora um novo bombardeio de falso conhecimento atingirá famílias por todo o Mundo com a estreia do filme 'Lucy' (imagem ao lado, trailers em inglês e português abaixo) que tem no papel de protagonistas Scarlett Johansson (nomeada para 4 globos de ouro) e Morgan Freeman (vencedor de 1 Óscar e apresentador do programa da Ciência "Through the Wormhole With Morgan Freeman" do Science Channel). Escrito e produzido por Luc Besson a sinopse do IMDb diz sobre o filme:
"Uma mulher apanhada acidentalmente num acordo desonesto, inverte a situação aos seus captores e transforma-se numa guerreira sem piedade que vai para além da lógica humana"
Os trailers abaixo dão ainda mais informação sobre este novo filme:

Trailer 1 - em Inglês


Trailer 2 - Em português



O Mito
Segundo a crença popular um ser humano médio em toda a sua vida utiliza apenas 10% do cérebro, se utilizasse a totalidade deste, o indivíduo desfrutaria de habilidades sobre-humanas. Muitos afirmam mesmo que se ganhariam funções psicocinética, psíquicas extra-sensoriais. Ainda é dito que pessoas com um Q.I. elevado usariam mais de 10% do cérebro. Sugere-se aqui que a inteligência de uma pessoa está directamente relacionada com a percentagem cerebral usada, sendo que indivíduos como Albert Einstein usariam mais do seu cérebro que o resto da Humanidade.

Apesar de esta crença ter sido inúmeras vezes desmentida pela comunidade cientifica, sabe-se que a capacidade intelectual de um indivíduo possa aumentar ao longo do tempo. Mas, apesar do cérebro ser um órgão extremamente complexo que não entendemos completamente, sabe-se também que todas as suas regiões são activas e têm funções determinadas.

Este mito pode ter começado com a 'Teoria da Reserva de Energia' criada pelos psicólogos de Harvard William James e Boris Sidis na década de '90 do século XIX. A sua teoria foi baseada na observação da criança-prodígio William James Sidis (não sei se por acaso ou por plano o nome do jovem é uma mistura do nome completo mais o sobrenome dos psicólogos).

William James disse em palestras públicas que as pessoas só usam uma fracção da sua potencialidade mental no seu quotidiano. O que é uma afirmação plausível. Mas em 1936 o escritor estadunidense Lowell Thomas 'resumiu' essa ideia no prefácio do livro "How to Win Friends and Influence People" de Dale Carnegie, para:
"O professor William James de Harvard costumava dizer que a maioria das pessoas desenvolve apenas dez porcento da sua capacidade mental latente."
No entanto o mito pode também ter surgido de um mal entendido em pesquisas neurológicas do final do século XIX ou inícios do século XX. 

*Por exemplo, as funções de muitas das regiões do cérebro (especialmente do córtex) são complexas o suficiente para que efeitos de danos sejam notados, levando cedo os neurologistas a conhecer o que essas regiões faziam. Também foi descoberto que o cérebro consiste principalmente de células gliais, que pareciam ter várias funções secundárias. O Dr. James W. Kalat, autor do livro-texto Biological Psychology, salienta que os neuro-cientistas da década de 1930 sabiam do grande número de neurónios “locais” no cérebro e que a má compreensão da função desses neurónios poderia ter levado ao mito dos 10%. De fato, é fácil imaginar que o mito foi propagado simplesmente por um truncamento da declaração de que “os humanos usam 10% de seus cérebros em qualquer momento”.

A Refutação do Mito

O conceituado neurologista Barry Gordon descreve o mito como 'ridiculamente falso' acrescentando ainda que 'nós [ser humano] usamos literalmente todas as partes do nosso cérebro.

Barry Beyrstein, PhD em Psicologia usa sete argumentos para refutar o mito:
´
  • Estudos sobre danos cerebrais: se 90% do cérebro é normalmente inutilizado, então danos nessas áreas não deveriam prejudicar o seu funcionamento. Na realidade, porém, não existe quase nenhuma área do cérebro que pode ser danificada sem perda de funções. Mesmo um leve dano em pequenas áreas do cérebro pode ter efeitos profundos;
  • Evolução: o cérebro é muito custoso ao resto do corpo em termos de consumo de oxigénio e nutrientes. Ele pode consumir vinte por cento da energia do organismo, mais do que qualquer outro órgão, apesar de ser apenas 2% do peso do corpo humano. Se 90% do cérebro fosse desnecessário, haveria grande vantagem evolutiva em seres humanos com cérebros menores e mais eficientes. Se isso fosse verdade, a evolução teria eliminado indivíduos com cérebros ineficientes. Pelo mesmo motivo, é altamente improvável que um cérebro com tanta área redundante teria evoluído em primeiro lugar;
  • Imagens do cérebro: tecnologias como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética (fMRI) permitem monitorizar a actividade do cérebro vivo. Elas revelam que, mesmo durante o sono, todas as partes do cérebro mostram-se com algum nível de actividade. Apenas em casos de grave dano cerebral existem “áreas silenciosas”;
  • Localização de funções: ao invés de agir como uma massa única, o cérebro tem áreas distintas para diferentes tipos de processamento de informação. Décadas de pesquisas revelaram o mapa de funções do cérebro, e não foram encontradas áreas de menor actividade;
  • Análise micro-estrutural: na técnica de unidade única de gravação, pesquisadores inseriram um pequeno eléctrodo no cérebro para monitorizar a actividade de uma única célula. Se 90% do cérebro não tivesse actividade, essa técnica teria revelado isso;
  • Doença neural: as células do organismo que não são utilizadas têm tendência de se degenerarem. Por isso, se 90% do cérebro fosse inactivo, autópsia de cérebros adultos revelaria degeneração em larga escala.
  
 Este mito continua bastante predominante na Cultura Popular, e como outros, apenas o Conhecimento pode acabar com eles é apenas uma pena que Hollywood, sabendo o seu poder nas massas faça este filme que mais uma vez disseminará este mito.

Vídeo Complementar:


Fontes (não citadas no artigo):
Legenda:
* - citando literalmente as fontes

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