21 de Agosto de 1415. Uma expedição portuguesa toma a cidade norte-africana de Ceuta, dando os primeiros passos para a constituição do Império Português, algo que mudaria drasticamente o plano político mundial. 600 anos depois olhamos para o que foi Ceuta, o que procedeu a sua conquista e o impacto que esta teria na História.
Em 1415, decorridos apenas quatro anos da paz de 1411 com Castela, que reconhecia D.João I como o legítimo monarca português dá-se uma enorme expedição militar (constituída por 19.000 combatentes, 1.700 marinheiros e 200 navios) que tinha o próprio rei à frente, conquista a importante cidade de Ceuta.
A expedição tinha demorado três anos a ser planeada (1412), sendo os preparativos entregues aos infantes D.Pedro e D.Henrique,
A batalha é fácil para os portugueses que apanham desprevenidos os mouros do Império Merínida, falando-se num número baixíssimo de mortos (oito é o número mais comum) e Ceuta é tomada pelos portugueses na noite de dia 21 para dia 22. Este facto é dado como o ponto de partida para a política de expansão ultramarina que se seguiria nos séculos seguintes, terminando apenas com a devolução de Macau à República Popular da China.
Mas quais as razões que levaram à Conquista de Ceuta?
A explicação de Zurara é a mais antiga, dizendo-nos que os infantes combinaram pedir a el-rei a realização de um grande torneio onde fossem armados cavaleiros; plano que foi apenas impedido pelo Ministro da Fazenda, João Afonso, que convenceu os príncipes que os cavaleiros deveriam ser armados em campanhas a sério e não em alegres festas, insinuando o projecto de uma expedição no Norte de África.
Esta narrativa foi refutada por António Sérgio em 1919, e por praticamente todos os historiadores modernos e contemporâneos desde então, a mais importante das quais a de Jaime Cortesão:
"a conquista e ocupação desta cidade, testa de uma estrada comercial para a região do ouro, chave do Estreito, comporta do Levante com o Ocidente, sentinela e guarda-avançada contra as incursões dos corsários muçulmanos às costas portuguesas, foi, segundo cremos, um prólogo aos vastos planos de expansão."
Estátua de Gomes Eanes Zurara, na Praça Luís de Cmões em Lisboa |
Zurara, aparece-nos, assim, com o melhor argumento, apesar da idade deste, tendo em conta a mentalidade da época: vigorava ainda os espírito daqueles que combateram na crise de 1383-85, um espírito que via maior mérito na guerra do que na procrastinação, espírito que permitiria aos portugueses grandes feitos.
Apesar de que tornar os príncipes cavaleiros fosse a principal razão, o facto de Ceuta ser uma cidade rica, com campos férteis e uma oportunidade para continuar a Guerra Santa contra os muçulmanos (vejamos mais uma vez a mentalidade da época) seriam óbvias vantagens no ataque à cidade.
Com a conquista portuguesa, Ceuta, que tinha sido um activo centro comercial e uma região fértil havia-se convertido numa cidadela em constantes lutas, que tinha que ser abastecida pelo mar com recursos vindos de Portugal (continental).
Foi mesmo na sequência de todos os conflitos que existiam na região entre portugueses e merínidas que são enviadas expedições por mar de forma a atacar outras cidades e territórios costeiros e a diminuir a atenção negativa recebida por Ceuta; sendo que é numa destas expedições que a embarcação capitaneada por João Gonçalves Zarco chega à ilha de Porto Santo, começando a descoberta do arquipélago madeirense e do Império Marítimo Português.
A expansão militar pelo Norte de África contra a continuação dos Descobrimentos Ultramarinos tornar-se-ia uma das maiores discussões da sociedade portuguesa até ao final do século XVI.
Depois da Madeira veio o Mundo, com Portugal a tornar-se a maior potência militar no planeta até ao inicio do século XVII (título que dividiria com Espanha até o perder para a Inglaterra em meados do século XVIII). Mas é importante recordar que Ceuta esteve no centro disto tudo: da expansão de Portugal enquanto nação, império e sociedade numa acção que começaria a globalização e o inicio da Aldeia Global.
600 anos depois, olhamos e reflectimos e apercebemos-nos que Ceuta mudou Portugal e o Mundo.
"Ceuta é um mui bom sumidouro de gentes, armas e dinheiro"
- Infante D.Pedro em 1425 (10 anos depois da conquista de Ceuta)Apesar do esforço económico e bélico necessário Ceuta foi mantida, e pela primeira vez desde do Império Romano um país europeu possui um território ultramarino de tamanho suficiente para se apelidar de império (especialmente se não contarmos com as Canárias, descobertas pelos portugueses em 1336, mas dadas a Castela pelo Papa).
Foi mesmo na sequência de todos os conflitos que existiam na região entre portugueses e merínidas que são enviadas expedições por mar de forma a atacar outras cidades e territórios costeiros e a diminuir a atenção negativa recebida por Ceuta; sendo que é numa destas expedições que a embarcação capitaneada por João Gonçalves Zarco chega à ilha de Porto Santo, começando a descoberta do arquipélago madeirense e do Império Marítimo Português.
A expansão militar pelo Norte de África contra a continuação dos Descobrimentos Ultramarinos tornar-se-ia uma das maiores discussões da sociedade portuguesa até ao final do século XVI.
Depois da Madeira veio o Mundo, com Portugal a tornar-se a maior potência militar no planeta até ao inicio do século XVII (título que dividiria com Espanha até o perder para a Inglaterra em meados do século XVIII). Mas é importante recordar que Ceuta esteve no centro disto tudo: da expansão de Portugal enquanto nação, império e sociedade numa acção que começaria a globalização e o inicio da Aldeia Global.
600 anos depois, olhamos e reflectimos e apercebemos-nos que Ceuta mudou Portugal e o Mundo.
Painel de Azulejos de Jorge Colaço na Estação de São Bento no Porto, representando o Infante D.Henrique durante a batalha |
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